"Eles estão dizendo que a saúde não presta". Esta é a avaliação feita pelo presidente da Sociedade Médica de Sergipe (Somese), Petrônio Gomes. ao comentar a atitude da direção do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), que solicitou do Conselho Federal de Medicina (CFM) uma "intervenção ética no maior hospital público do Estado. Para Petrônio, a direção do Huse assinou um "atestado de incompetência" e de que não tem condições de gerir a unidade. "Quem vai sofrer com tudo isso não será o Governo, mas a população", frisou. Na avaliação do presidente da Somese, o pedido de interveção só prova que que há muitas dificuldades na gestão com a ação da Fundação Hospitalar de Saúde. "Se o Huse está desse jeito, imagine o resto", lamentou. Ontem, a direção do Huse confirmou que encaminhou à entidade um pedido de "intervenção ética", isto é, a supervisão dos procedimentos de todos os médicos e gestores da unidade de saúde conforme as normas éticas e legais que regem a profissão. Este pedido foi confirmado durante uma reunião com representantes do Huse, do Conselho Regional de Medicina (Cremese), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SE) e a promotora Euza Missano, do Ministério Público Estadual. A medida foi tomada no mesmo dia em que o Huse, maior hospital público do estado, foi vistoriado por equipes de fiscalização dos conselhos Federal e Regional de Enfermagem (Cofen e Coren/SE). Neste trabalho, finalizado ontem, elas encontraram problemas já conhecidos do público, como superlotação, sobrecarga de profissionais e falta de leitos, macas, medicamentos e até de materiais de trabalho, como luva e gaze. Um relatório da visita será confeccionado e entregue nos próximos dias à Secretaria Estadual de Saúde, mas os conselheiros concluem, de forma categórica, que o Huse "não tem condições adequadas" de atender à população e pode induzir os servidores a cometerem erros graves. Por meio de nota divulgada pela secretaria, a superintendente do Huse, Madeleine Ramos, argumenta que o pedido ao CFM "nada tem a ver com intervenção administrativa na gestão" e nem implica em mudanças no comando dela. Segundo a diretora, a ação do conselho é uma "ajuda" à gestão para resolver os problemas que afetam o funcionamento do hospital, alvo de constantes reclamações da população. "Não é um momento em que nós nos declaramos incapazes de administrar, até porque isto não altera em nada a gestão do hospital, muito pelo contrário, estamos pretendendo partilhar [com o Conselho] as nossas dificuldades e viemos solicitar auxílio nesse sentido, [pedir] idéias, críticas, encaminhamentos, para que a gente venha melhorar a assistência, de garantir escala, condições de trabalho", esclarece. Madeleine também atribuiu parte dos problemas do Huse, sobretudo a superlotação, à falta de assistência básica de saúde em cidades do interior de Sergipe e de estados próximos, como Bahia, Alagoas e Pernambuco, nas quais os pacientes de casos que poderiam ser resolvidos nas próprias cidades são mandados para o Huse. "O que nós precisamos regular são os casos de menor complexidade. A gente percebe ainda um déficit na atenção primária, e atendemos da unha encravada ao trauma de crânio. E como é que se faz programação para abastecimento dessa maneira? Se você não tem controle do número de pessoas que você vai atender?", questionou ela, alegando que "a incerteza do atendimento na atenção básica tem feito usuários procurarem o Huse, onde existe o atendimento". Fonte: Grabiel Damásio/Jornal do Dia e Antônio Carlos Garcia/Jornal da Cidade