Alguém sabe os motivos dessa mudança? O Portal Infonet buscou especialistas na tentativa de dar uma resposta aos pacientes e familiares, que em sua maioria ficam perdidos e o pior, fazem verdadeiras maratonas em busca de atendimento, mesmo pagando planos de saúde. Fato que há muitos meses vem sendo destaque na mídia sergipana.
O jornalista e radialista José Eugênio de Jesus é um exemplo de demora para ser atendido. Ele está com 92 anos e por conta de uma queda recentemente, fraturou a coluna. Resultado: sofrimento para ele e para toda a família que penou em busca de atendimento, percorreu quatro hospitais, mesmo possuindo planos de saúde [Ipes e Geap], sem conseguir se mexer e sentindo fortes dores, até chegar ao Hospital Cirurgia onde conseguiu ser internado e constatar fratura na coluna cervical.
"Primeiro nós o levamos para o Hospital Renascença, mas não tinha neurocirurgião, depois o levamos para o Hospital Primavera, não tinha vagas e nos informaram que somente conseguiríamos um especialista no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse). Lá, meu avô ficou em uma maca na urgência, juntamente com pacientes que tinham sofrido acidentes. Ficou mais de 24h sem tomar banho, sem trocar a fralda e nós não podíamos fazer isso por conta do problema na coluna", lamenta a neta, Paloma Augusta de Jesus.
Do Huse, José Eugênio de Jesus foi transferido para o Hospital Cirurgia. "Foi outro problema, pois no Huse, diziam que o Cirurgia era quem devia solicitar e no Cirurgia, a informação era de que o Huse devia transferir. Foi um tormento. Chegando no Cirurgia, o único transtorno que enfrentamos foi a demora para fazerem a transferência do meu avô da enfermaria para o apartamento. Graças a Deus foram feitos todos os exames e prestados os devidos cuidados, não precisou passar por cirurgia e em breve receberá alta", comemora aliviada Paloma.
Demanda
Para o presidente da Sociedade Médica de Sergipe (Somese), Petrônio Gomes, a grande demanda e o número reduzido de médicos têm contribuído para essa situação. "A população cresce e o número de leitos e de profissionais não acompanha à grande demanda. Só para fazer um paralelo, em nove meses, uma criança é colocada no mundo, mas o médico precisa de seis anos para se formar. Além disso, é preciso se aumentar o número de leitos, de hospitais", enfatiza.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe (Sindimed), José Menezes, a grande demanda e a falta de leitos contribuem mesmo para que os pacientes continuem fazendo ‘maratonas' em busca de atendimento.
"Isso sem contar com a preferência da população por algumas unidades de saúde. O São Lucas, por exemplo, é uma referência em todo o Estado de Sergipe, o que aumenta consideravelmente a procura, só que o número de leitos não consegue atender à demanda no setor de Urgência. Já pensou se os hospitais atendessem a todos os planos de saúde? Sem contar que o número de hospitais é reduzido. A população aumenta e os hospitais são os mesmos", lamenta José Menezes.
Preferência
Um fato comprovado é a preferência da população quando o assunto é hospital particular. Em Sergipe, a Urgência do Hospital São Lucas é considerada de acordo com o diretor presidente, Paulo Azevedo Barreto, uma das maiores do país, em termos de quantidade de médicos e número de leitos.
"Hoje contamos com 24 leitos, seis médicos e cerca de 20 pessoas entre enfermagem e pessoal administrativo, atendendo mais de 5 mil pacientes por mês. A principio, o setor de emergência deveria ser usado apenas para os pacientes graves ou em suspeita de risco. Esses pacientes seriam admitidos na unidade para cuidados agudos, buscando a sua estabilização imediata. A partir desse momento, os pacientes seriam encaminhados para casa, nos casos da suspeita não se confirmar, ou para o internamento, caso se precise aprofundar a investigação", explica.
Ele disse que desse ponto de vista, a unidade de Urgência é uma unidade temporária, de passagem, para estabilização, sobretudo de pacientes e definição de condutas. "Com o passar do tempo, a comunidade passou a entender a Urgência como uma possibilidade de consultório 24 horas, podendo ser acessado a qualquer tempo, sem ter que enfrentar as agendas dos médicos. Urgência, do ponto de vista do paciente, passa a ser a sua necessidade de ser atendido o mais rápido possível, independentemente de critérios técnicos, leia-se, gravidade. Esse é o desafio atual, de todas as unidades de urgência e emergência mundiais", entende Dr. Paulo Barreto.
Primeiro quem?
No sentido de atender à grande demanda, hospitais da rede particular estão utilizando critérios técnicos com a finalidade de decidir quem será atendido primeiro. "Mesmo sob pena de ouvirmos reclamação. A enfermeira da triagem aplica, na nossa emergência, o protocolo internacional de Manchester, que classifica o risco do paciente em quatro cores: vermelho (emergência) - risco imediato; amarelo (urgência) - risco iminente; verde (ambulatório) - baixo risco, precisando eventualmente de algum exame ou medicação, mas sem urgência; azul (ambulatório) - na maioria das vezes, apenas um consulta", destaca.
"Além disso, temos procurado aperfeiçoar os processos continuamente para acelerar o atendimento, assim como também temos projetos de ampliação. É certo que, quanto mais de referência o hospital for para a comunidade, mais ele estará sujeito a esse tipo de demanda, já que não se pode controlar a entrada do paciente numa unidade aberta como a Emergência", entende.
Peregrinação
Uma questão quem vem causando angústia nos pacientes e familiares que procuram atendimento nas unidades de saúde da rede particular é justamente a transferência para outros hospitais. De acordo com o diretor-presidente do Hospital São Lucas, todas as instituições têm um limite de capacidade.
"Portanto, é razoável que, ao chegarmos ao limite, possamos contar com a possibilidade de transferência desse paciente para outras unidades da rede. Isso é uma ocorrência comum, protocolada e bastante reconhecida pelos participantes do setor de saúde como um todo (médicos, hospitais, planos, pacientes)", diz.