Na edição 1385, o Cinform publicou a matéria 'Interior tem profunda carência de maternidade, e gestantes correm risco'. Quase dois anos depois, a reportagem resolveu conferir se houve melhoria na oferta dos serviços para as parturientes dos municípios sergipanos. Que melhoria, que nada. A dor de parir, em um Estado que fecha os olhos para as gestantes, não se restringe apenas à do parto.
As informações vindas da Secretaria de Estado da Saúde - SES - confirmam que a precariedade insiste: em um universo de 75 cidades em Sergipe, apenas 18 possuem leitos obstetrícios (com capacidade para partos normais). E que apenas seis municípios realizam parto de baixa complexidade: Itabaiana, Capela, Lagarto, Estância, Glória e Nossa Senhora do Socorro.
Sem condições de dispor de um serviço médico adequado nos seus municípios, mulheres prestes a dar à luz se deslocam para cidades vizinhas ou têm seus bebês no meio do caminho, assim de qualquer jeito, como se 'parir' fosse tarefa das mais banais e não exigisse cuidados maiores.
MATERNIDADE FECHADAA jovem mãe Angélica de Souza Santos, 23 anos, que o diga. Ela está no final da terceira gestação e tem que se deslocar de Cristinápolis, onde mora, para resolver as questões burocráticas do seu parto em Estância. "Faço o pré-natal na minha cidade, mas lá não tem maternidade. É tudo muito difícil. Tenho medo de ter que sair de casa às pressas e não dar tempo de chegar ao hospital", diz Angélica.
Na cidade de Boquim, há sete anos a Maternidade São Vicente de Paula está completamente abandonada. A boquinense Maria das Dores Santana, 30, está grávida e ainda não sabe onde o seu terceiro filho nascerá. "Faço o pré-natal na Clínica de Saúde da Família de Boquim, mas devo ter o meu filho em Estância ou em Lagarto. Vai depender de onde haverá vaga. Lamento bastante não poder ter o meu filho na maternidade da cidade e fico preocupada com o transporte para me levar, afinal criança não marca hora pra nascer", ressalta Maria das Dores.
Já Jordânia Bispo dos Santos, 19, migrou de Tobias Barreto para ter o seu primeiro filho em Lagarto. "Vim em trabalho de parto. Fui bem atendida, mas seria melhor que tivesse maternidade na minha cidade. Foi um sufoco chegar até aqui", queixa-se Jordânia.
SUPERLOTADASNa Maternidade Zacarias Júnior, em Lagarto, cerca de 260 partos são feitos a cada mês. Destes, 180 são normais e cerca de 60 são cesarianas. "Há dias que não temos onde alojar tantas pacientes, pois o hospital recebe gente de municípios sergipanos, e de fora também. Temos 35 leitos e sete para pré-partos, mas há dias em que este número é insuficiente", explica a diretora Administrativa da maternidade, Valderez Santana Monteiro
Valderez informa, também, que a Maternidade São Zacarias não tem condições de realizar casos mais complicados de parto. "Encaminhamos situações assim para as maternidades Nossa Senhora de Lourdes e Santa Izabel, em Aracaju. Aqui, temos apenas uma mini-UTI neonatal", diz.
No Hospital Regional de Nossa Senhora da Glória, cerca de 160 partos são realizados mensalmente. Segundo a diretora Maria Goretti Azevedo, a maternidade funciona com apenas dois obstetras por plantão. "A Fundação Hospitalar está contratando outros 11 médicos para fechar a escala com dois plantões diários", adiantou Goretti.
SOMESEDe acordo com a SES, até o final deste ano serão entregues 94 leitos obstetrícios em todo o Estado, sendo 25 em Lagarto, 10 em Nossa Senhora do Socorro, 20 no Hospital da Polícia Militar e 27 no Hospital Santa Izabel. Até o final de 2012, outros 39 serão entregues. Deste total, 24 irão para Estância e 15 para Nossa Senhora da Glória.
Petrônio Gomes, presidente da Sociedade Médica de Sergipe - Somese - acredita que as Clínicas de Saúde da Família, construídas pelo atual Governo, poderiam dar suporte às gestantes no interior. "Uma forma de minimizar este problema seria contar com salas de parto nestas clínicas", sugere Petrônio.
Fonte: Jornal Cinform