Idealizada pela Sociedade Médica de Sergipe - Somese - com o objetivo de mapear a real situação da Saúde em todos os municípios sergipanos, o projeto Caravana da Saúde saiu do papel e ganhou vida prática no início deste ano. Mas engana-se quem pensa que a boa ideia foi aceita apenas por um grupo restrito de médicos bem intencionados.
O projeto cresceu e acabou sendo abraçado também pelo Sindicato dos Médicos de Sergipe - Sindimed -, Conselho Regional de Enfermagem - Coren - e Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Sergipe - Seese. Desde então, todos arrumam as malas e viajam juntos, rumo ao interior sergipano.
Os primeiros municípios visitados foram Umbaúba e Estância - ambos no sul do Estado. Na primeira cidade, foi verificado um índice de mortalidade infantil acima das médias estadual e nacional. "Isso mostra a vulnerabilidade do Programa de Saúde da Família - PSF - do município. Também observamos vários consultórios montados, mas sem prestar atendimento à população", diz Enock Ribeiro, enfermeiro e conselheiro do Coren.
Ribeiro acrescenta que outro ponto vulnerável de Umbaúba está localizado nas Unidades de Pronto Atendimento - UPAs -, que contam com número reduzido de médicos. "No dia da nossa visita, vimos médicos obstetras tendo que atender à população porque não havia médico plantonista. A saúde em nosso Estado está muito precária", destaca o enfermeiro.
SEM AMPAROA visita ao município de Estância esteve mais focada no Hospital Amparo de Maria, que possui número alto de leitos e maternidade anexa em funcionamento. "Aquele hospital passa por um grande problema financeiro, deixado por administrações anteriores. No momento, ele está sendo gerenciado por um interventor. O Governo coloca dinheiro lá, mas ainda não sabemos exatamente o que ele quer fazer com o Amparo de Maria", explica Petrônio Gomes, médico neurologista e presidente da Somese.
Petrônio acrescenta que, ao construir o novo hospital, o Governo acreditava não ter responsabilidade nenhuma sobre o Amparo de Maria, mas acabou perdendo judicialmente este processo, porque a dívida foi considerada pela Justiça como sendo do Estado. "Agora, o Governo tem dois problemas: manter o hospital novo, que ainda não foi inaugurado, e arcar com as dívidas anteriores do Amparo de Maria. Há muito blá, blá, blá por parte do Estado, mas a gente não vê nada na prática. A Caravana veio pra ajudar", diz Petrônio.
TUDO COMEÇOU...
Petrônio Gomes explica que antes da criação da Caravana havia dois parâmetros a serem seguidos quando o assunto dizia respeito à Saúde do Estado: o da oposição, afirmando que nada estava bom, e o da situação, garantindo que a Saúde ia muito bem, obrigado.
"Então, a melhor maneira de descobrir foi verificando de perto o que realmente estava ou não estava bem. Assim, surgiu a ideia de visitarmos individualmente os municípios, afinal cada um tem sua realidade e identidade. Queremos entender porque é que a Saúde do menor Estado da Federação não é excelente", questiona Petrônio.
Para desvender isso, quando desembarcam em determinado município, os integrantes da Caravana conversam com a população, com os secretários municipais de Saúde, Ministério Público, enfermeiros e médicos que vivenciam os problemas.
"Tudo isso é um feedback, uma maneira de nos aproximarmos da população do interior, muitas vezes sem voz. A troca de informações é muito proveitosa", ressalta Petrônio. Diante disso, nas próximas andanças da Caravana pelo interior, está prevista a participação dos Conselhos Regionais de Arquitetura, Odontologia e Fisioterapia.